Quando fazemos escolhas, inevitavelmente assumimos posições. A neutralidade não existe; você pode desconhecer o assunto e não ter uma opinião formada sobre - o que na era da internet isso parece até um pecado - mas não fazer escolhas é humanamente impossível, já que não agimos só por instinto.
Ao nos referirmos aos movimentos do vegetarianismo e veganismo, é comum associarmos a causa animal e defesa do meio ambiente. É uma feliz associação, contudo, ele tende a ser um assunto muito mais profundo e uma escolha muito mais complexa.
Existe uma vertente do anarquismo atual, por exemplo, que defende que o movimento - mais filosófico e pacifista de Proudhon - se "vestiu" de outras ideologias. Seria o caso do budismo e do hinduísmo atuais; a defesa dos animais; o vegetarianismo...
Fora o ponto óbvio de que todos esses movimentos pregam o respeito à outras espécies animais, segundo a vertente anarquista, todos eles também são ideologias que se colocam contra o poder; são oposição, são contra àqueles que governam e centralizam o poder.
Tudo o que vemos em religiões que pregam o sacrifício de animais, o mito do canibalismo, a comunhão do sangue pela irmandade, o consumo de carne como único alimento, a exploração dos campos para agropecuária visando o enriquecimento de poucos e não a alimentação de muitos, o marketing voraz de que sem carne você é fraco, a desconstrução do animal em alimento, o lucro baseado na exploração e morte do outro.
Existe também uma vertente que associa o vegetarianismo/vegan ao feminismo. A partir do momento que o homem não enxerga na mulher um semelhante, a objetifica, ele a transforma em um pedaço de carne que pode ser explorado a seu bel prazer. Quantas vezes, em relatos de mulheres que sofreram maus tratos não vemos em seus relatos "Fui tratada como um animal. Me senti um pedaço de carne!"?
Existem àqueles que optam pelo vegetarianismo/vegan como uma dieta, uma opção de alimentação visando uma questão estética.
E existe também uma questão de saúde, aqueles que tem intolerância a carne.
Sou vegetariana e, para a minha escolha, dois acontecimentos foram decisivos: dois acidentes - um rodoviário e outro marítimo - que envolveram o transporte de animais para o abate e a leitura do livro "O restaurante no fim do universo", de Douglas Adams.
No primeiro caso, nada foi feito pelas autoridades para assegurar a vida dos animais sobreviventes, a única preocupação era remover tudo rapidamente. Já no livro, um dos personagens - uma vaca para ser mais específica - questiona sobre a prática alimentar dos outros.
Minha escolha tende a ser muito mais política e social do que alimentar. O que não deslegitima outras. Existe também o caso daqueles que não tem opção. Certa vez li uma postagem que dizia: "de onde eu venho, ser vegetariano é um luxo."
De fato, poder fazer escolhas é um luxo!
Seja qual for a sua, tenho umas dicas para você:
- Não mude sua alimentação drasticamente. Comece aos poucos.
- Converse sempre com um nutricionista (no meu caso, funcionou com o endocrinologista, mas isso é um papo para outro post); de preferência para um profissional que seja adepto do vegetarianismo/vegan.
- Faça seus check-ups regularmente.
- Teste seu paladar, descubra outros sabores.
- Movimente seu corpo.
Dicas de leitura:
O restaurante no fim do universo, Douglas Adams.
A política sexual da carne, Carol J. Adams.
O que é anarquismo, Caio Túlio Costa
Notas sobre o Anarquismo, Noam Chomsky
Sobre os acidentes:
https://globoplay.globo.com/v/4419689/
http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2015/10/imagens-mostram-momento-em-que-navio-tomba-no-porto-de-barcarena.html
Adorei o blog...🤗
ResponderExcluirObrigada, Denise!
ResponderExcluirContinuaremos trabalhando nele e sua participação nos ajuda muito!
Bjo